Contrariedades
Há uns dias escrevi um texto que intitulei de “diferentes matizes de verde”. Também sabia que, uns dias depois, iria fazer uma viagem onde iria, realmente, ver diferentes matizes de verde.
Não é o primeiro país que visito e oferece uma paisagem assim.
Mas, não sei.
Este teve um impacto diferente. Talvez por não esperar beleza alguma. Ou saber que poderia ser belo, sem impressionar. Não é um destino muito conhecido, nem tão pouco mencionado como turístico. E continua a não ser o solo mais bonito que vaguei. Vim de lá com coisas diversas e aleatórias para dizer.
Primeiramente, não me senti fora de casa. Bem sabia que este país está repleto de portugueses. Tentei treinar o meu francês, e raramente mencionei uma palavra em inglês. Entrava no hotel e dizia “bom dia”. A senhora da caixa do supermercado disse-nos que a fruta podia ser pesada ali. E num café foi fácil pedir “café” em chávena fria.
Não senti viagem, contudo também não me passou pelos íntimos aquele aconchego de casa.
O que me leva, agora, ao segundo tópico que muito pensei enquanto caminhava naquelas ruas da UNESCO.
Ouvi mais vezes a minha língua do que ouvi francês (ou alemão). Vi inúmeros elementos da minha cultura impregnada nas cidades. Inclusive quem não era português ou descende lusitano tentava pronunciar as palavras e expressões mais básicas.
Querem mais exemplos de uma cultura arreigada a outra?
Não será isto que acontece na nosso nação? Se os nossos saem para países que lhes facilite a realização de objetivos, e o nosso país está a ser um deles para outra comunidade, onde está o erro?
Bem sei, que aproveitadores e pessoas sem noções, de outras nacionalidades, circulam nas ruas lusas. No entanto, decerto que há alguém que já se tenha cruzado com um português menos bem intencionado e acreditado que eramos todos assim. É justo para nós?
Então porque fazemos igual aos imigrantes aqui?
“Perde-se a essência portuguesa”. Na verdade, quem a faz perder não são os imigrantes. São os últimos governantes que criaram as condições ideais para alguns habitantes emigrarem.
Vemos muitas cores e etnias a sobreviver de subsídios. Sim, vemos. E quantos camonianos? Se algo está errado não é nestes cidadãos que devemos encaminhar a revolta. É sim na forma como as políticas foram e estão a ser organizadas.
Mas bom. Não me alargo neste tópico, que muito há a refletir.
Regressando à minha viagem.
Foi uma descoberta por ruas repletas de história europeia. Fortificações e arquitetura medieval atravessada por palácios, igrejas e edifícios renascentistas e barrocos, não esquecendo algumas, embora menos, avenidas góticas que nos fazem pensar em Paris. Telhados com tonalidades cinzentas inclinados, fachadas em pedra clara e portas de madeira simples. Rodeados de pequenos quintais verdes e deliciosamente organizados – faz sonhar. Enquanto não temos saudades dos raios luminosos lusitanos.